Não desejo fazer perguntas que comumente são feitas; mas algumas são indagações que gosto e as faço a mim mesmo; e outras com intento para que possamos entender como estamos indo com nossos novos escritores; ou mesmo aos que já tem certa experiência na arte da escrita. Sobremodo, eu almejo fazer uma pequenina introspecção no autor que deseja responder-me e para seu leitor, o admirador que promove um grande prazer ao admirado, e vice-versa.
Com um convite de Myllena Nonato Lima, também administradora da página Entrevistando Autores do Wattpad, convido-lhe a mais entrevista, agora com a escritora Nana Calimeris. Espero que gostem...
1-
O que te define um escritor? Qual foi a idade que você teve o peso necessário que o fez considerar, ou mesmo como pretensão, a ser um amante das letras?
2-
*** Para mim, o que me define como
escritora é me preocupar com um bom português, embora eu tenha lá os cacoetes e
vícios de linguagem. É fundamental que um escritor domine a língua na qual
escreve para contar uma boa história. Já vi bons plots se perderem pela falta
de uma boa escrita. Estilo, descobri que tenho um modo de escrever que é bem
particular, principalmente, quando baseio minhas histórias em sonhos que tive e
me marcaram.
Infância, pelos sete anos de idade.
Descobri na literatura, uma forma de poder me expressar e como eu já tinha
depressão, foi uma forma de tentar aliviar a dor que me consumia da sensação de
solidão e desespero, dos choros contínuos. Não foi o suficiente, claro, mas,
foi o que me levou a querer colocar uma palavra depois da outra. A vontade de
querer ser publicada veio aos 18 anos, mais de 20 anos atrás.
Sabe qual a diferença entre um autor e um escritor?
3-
*** Não. E tem?
3-
(A)-Como autores são seres que pensam muito, qual é sua maior frustração quando ocorre a possível incompreensão do leitor para com sua obra?
(B)-Sobre ainda esse "conflito", uma questão para ser respondida como um leitor e outra como escritor, há uma preocupação que você faz na tentativa de melhorar essa comunicação?
4-
(B)-Sobre ainda esse "conflito", uma questão para ser respondida como um leitor e outra como escritor, há uma preocupação que você faz na tentativa de melhorar essa comunicação?
*** Um belo palavrão e pensar no que
posso melhorar.
Sim, tenho um amigo, que é o mais
ferrenho crítico do que escrevo. Ele fala que minhas personagens são mulheres à
espera do príncipe encantado, coisa que eu não quero. Então, tento perceber o
que posso fazer para torná-las mais próxima do que imagino ou quando ele fala
de alguns vícios que tenho e que posso corrigir. Em algumas histórias, claro,
isso não é possível.
Você se preocupa com o plágio inconsciente (Aquele que, quando é leitor de seu autor favorito, o faz sem perceber)? Cite seus três autores favoritos:
5-
*** Eu tenho inúmeras referências de autores
variados, que vou brincando. Então, não me preocupo com isso. Afinal, Jung já
falava do inconsciente coletivo. Os deuses são infinitos e se repararmos bem,
as culturas diversas espalhadas pelo mundo antes do advento da comunicação
cultuavam deuses do sol, deusas da lua e assim segue. É importante que
estejamos atentos ao inconsciente coletivo. Devemos apenas tomar cuidado para
não usar excessivas referências (e os fãs de Harry Potter que me perdoem) como
o fez J.K. Rowling. Por exemplo, a coruja de Potter é a mesma coruja usada por
Neil Gaiman em Os livros da magia e há outras referências claras de plágio
descarado.
5-
Quando acaba de escrever, sempre posta em seguida ou tem o hábito de amadurecer a sua obra até que fique como deseja, e logo depois, a faz ter vida pública?
6-
*** Na verdade, só me dou ao trabalho
de escrever quando a história passa em minha mente como em um filme porque eu
sei para onde ir. Às vezes, parece que a personagem senta sobre meu ombro e vai
contando a história até ela ter o formato. Só tem um livro que reformulei
várias vezes, tendo, inclusive, terminado e começado do zero. É uma história
que surgiu quando eu tinha 15 anos e acho que, agora, consegui fazer ela ter o
tom desejado.
Encanta-te a fama póstuma? Escreve algo nesse sentido; preocupa, há um esforço particular em escrever algo que só pode ser admirado depois de décadas?
8-
*** Não e não. Escrevo porque preciso.
Não escrevo para agradar aos outros. Talvez, seja um erro. Mas, eu sinto a
necessidade de fazê-lo para não enlouquecer e creio que isto me manteve viva
durante muitos anos e estou falando absolutamente sério sobre isso.
7-
O que te motiva a escrever? E o que lhe provoca desânimo?
*** Sobreviver me motiva a escrever, é a forma artística de expressão que mais domino. Gosto de desenhar mas não sou tão dedicada quanto gostaria. Não sei tocar nenhum instrumento e não tenho o menor dom para música, infelizmente. Sobrou-me a escrita.
7-
O que te motiva a escrever? E o que lhe provoca desânimo?
*** Sobreviver me motiva a escrever, é a forma artística de expressão que mais domino. Gosto de desenhar mas não sou tão dedicada quanto gostaria. Não sei tocar nenhum instrumento e não tenho o menor dom para música, infelizmente. Sobrou-me a escrita.
As críticas positivas são sempre bem vindas, porém, pode ser que você tenha a (in)felicidade de encontrar alguém mais sincero, (não, necessariamente, que fará críticas justas), como você se daria com isso? Responderia na mesma altura, questionaria a si mesmo e/ou defenderia o que acredita em sua obra?
*** Uma vez, um crítico disse que um
livro meu parecia um manual de chuveiro. Muitas vezes, amigos acham que minhas
histórias são confusas. Mas, meu cérebro é um labirinto cheio de voltas. Eu não
consigo ser linear. Imagine escrever uma história linear. Estou tentando com
esta obra que falei só que é difícil.
9-
Sabendo que autores têm poderes que formam opiniões e promovem discussões, você possui essas preocupações mente o que você deve ser passado ao publicar? Ou acredita que não há tanto valor, em um sentido contextual, de seus escritos?
Eu não li, mas, considero o livro de Nana Queiroz de uma grande importância (Presos que menstruam) e o fato dela ter criado uma revista voltada para uma mulher que se cansou de revistas de beleza que falam como fazer sexo pendurada no lustre, como agradar ao homem e dicas de beleza que só fazem com que nos sintamos feias. Neil Gaiman é outro autor fenomenal e Amanda Palmer tem um livro que ainda não li, mas, está na lista de aquisições: A arte de pedir. Em termos de romance, não tenho lido nada que me tenha chamado a atenção.
11-
*** Sim, sempre deve ter este valor. Eu
gosto da ideia de provocar e polemizar, principalmente, quando escrevo
crônicas. Talvez, um dia, eu escreva sobre radicalismos e movimentos sociais,
uma história que tenha este contexto porque as pessoas que entram em grupos
parecem perder a capacidade de raciocínio. Jung já dizia isso no começo do
Século XX.
10-
Você tem um pensamento político ou social? Sente falta de autores contemporâneos que utilizam seus textos para contribuir de alguma forma para sociedade? Se leu, cite ao menos duas obras como dicas de leitura!
10-
Você tem um pensamento político ou social? Sente falta de autores contemporâneos que utilizam seus textos para contribuir de alguma forma para sociedade? Se leu, cite ao menos duas obras como dicas de leitura!
*** Sim, tenho. Vou citar uma conversa
que tive com meu filho estes dias. Falávamos sobre a questão de gênero e eu
estava explicando para ele os vários nomes e definições que existem hoje em dia
e ele disse: Ninguém tem asas de joaninha nascendo nas costas. Todo mundo é ser
humano. Eu retruquei que se houvesse pessoas com asas de joaninha, não
poderíamos ter preconceito com mutantes. Ele disse: Bem, ninguém é um monstro
saindo do lago. Portanto, acredito que devemos nos unir em prol de uma
humanidade melhor. Temo pelo que o feminismo esteja fazendo com as pessoas e
que os movimentos sociais perderam o foco. Se a luta é pela aceitação, por que
heterossexuais não podem defender os lgbt's? Não é este o propósito dos
movimentos? Se as feministas lutam contra o machismo, por que elas excluem os
homens? Será que a ideia é criar uma sociedade apenas de mulheres?
Eu não li, mas, considero o livro de Nana Queiroz de uma grande importância (Presos que menstruam) e o fato dela ter criado uma revista voltada para uma mulher que se cansou de revistas de beleza que falam como fazer sexo pendurada no lustre, como agradar ao homem e dicas de beleza que só fazem com que nos sintamos feias. Neil Gaiman é outro autor fenomenal e Amanda Palmer tem um livro que ainda não li, mas, está na lista de aquisições: A arte de pedir. Em termos de romance, não tenho lido nada que me tenha chamado a atenção.
Você tem dificuldades em escrever sobre algum tema específico? Quais os motivos? Tem algum tema que tem todo poder de seu espírito, como se houvesse a necessidade em depositar no papel aquilo que tanto sentiu?
12-
*** Depende. Em termos de crônicas,
não. O google ajuda bastante a conseguir as informações necessárias. Em histórias,
sim. Minhas personagens flutuam entre o realismo fantástico e fantasia. Tenho
dificuldade em escrever sobre coisas que não pertencem à minha realidade como,
por exemplo, um tema muito explorado na literatura brasileira, que é a
dificuldade do nordestino e do pobre. Eu defendo que todos devemos ter nossos
direitos atendidos e que deveríamos ter uma sociedade mais justa. Mas, eu não
consigo escrever sobre realidades distantes da minha. Mas, há coisas que são
universais e é, por esta razão que nos conectamos com histórias bem escritas,
elas nos falam alguma coisa.
Você teve alguma referência familiar, alguém, que mesmo de forma indireta, influenciou na sua vida amante da arte da escrita?
13-
*** Meu pai gostava de ler quando era
menino. Mas, é tudo. A literatura chegou para mim porque eu me sentia muito
sozinha enquanto crescia. Eu não conseguia me socializar com facilidade.
Para tentarmos algo diferente, você responderia essas perguntas por captação e veiculação em um vídeo?
14-
*** Sim.
Eu tenho uma frase em defesa dos livros físicos, ei-la:
“Os apreciadores das artes convencem-se pelos sentidos que possuem. Portanto, um leitor, depois da visão, inconscientemente, se apega ao livro pelo olfato e, o mais defendido, o tato. Livro físico jamais será substituível para nós leitores.”
Concorda comigo? Qual é seu relacionando com os livros físicos e os digitais?
15-
“Os apreciadores das artes convencem-se pelos sentidos que possuem. Portanto, um leitor, depois da visão, inconscientemente, se apega ao livro pelo olfato e, o mais defendido, o tato. Livro físico jamais será substituível para nós leitores.”
Concorda comigo? Qual é seu relacionando com os livros físicos e os digitais?
*** Eu tenho dificuldade em ler livros
digitais. Eu me esforço, mas, a tela me cansa um bocado. Eu gosto de sentir,
tocar, passar as páginas. Dá preguiça de ler na tela. Cansa. Quando fecho o
olho, fica aquela coisa branca na retina.
15-
Diga-me quais são suas obras? Discorra um pouco sobre uma delas em que há mais sente orgulho. O quanto ela biográfica?
16-
*** Caraca! É muita coisa para falar
assim. Mas, existem coisas que eu escrevi que me surpreendem muito. Escrevi um
livro sobre incesto e é um livro pesado neste aspecto. Fiz a revisão dele
recentemente e me pergunto onde eu estava com a cabeça para escreve algo tão
intenso, forte e tão disruptivo porque conta a história de uma mãe que seduz o
filho e da irmã que é apaixonada pelo irmão. O livro se chama Amar implica em
não sofrer.
Tem um outro livro Luz de la Mañana que
também trata do tema, mas, de uma forma mais delicada e é a busca da personagem
por si mesma, pelo entendimento da vida. Na verdade, todas as minhas obras têm
este ponto em comum, a busca do entendimento da vida, das dores e das
angústias. Talvez, porque quando os escrevi, eu desconhecia que tinha espectro
bipolar e sentia o mundo como se estivesse sem pele. Tudo era forte e intenso e
eu buscava respostas para me entender, para descobrir porque não me sentia
amada. Os contos têm menos disso. Gosto de usar elementos simbólicos, embora
não sabia como o público os entenda.
Mistérios de mim é a busca de uma
mulher durante a sua vida sobre um evento que teve uma grande importância em
sua vida.
Quem é Rose Alice foi livro que eu
escrevi por conta de coisas que ouvi que me machucaram muito e saiu uma obra
com ficção científica, que é um tema que muito me interessa em filmes.
16-
Poesia! Eu, Patrick, acredito que a poesia está presente em qualquer arte que se pretenda expressar! O que essa palavra (e um leque de significados), sobretudo na escrita, representa em sua vida literária?
17-
*** É simbólica. Não é uma arte que eu
domina nos termos clássicos. Mas, por exemplo, os orientais são mestres nesta
arte seja em que arte for. Principalmente, nos animes. Há muito simbolismo nas
artes orientais. O ocidental precisa de tudo preto e branco. As sutilezas se
perdem.
17-
Quais outras artes que você desejaria se expressar?
18-
*** Eu me expresso. Desenho! Não como
gostaria mas tento.
18-
Esse questionamento pode lhe promover um amadurecimento? Em suas reflexões, gostou dessas perguntas?
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*** Foi bem interessante respondê-lo.
Sim, organizou melhor o que posso fazer com as minhas histórias.
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Cite uma frase, em quantas linhas desejar, que vende o seu lado autor:
20- Cite três livros e seus respectivos estilos que gosta e três que não gosta:
*** Pô, você gosta de me complicar, né?
Não tenho.
20- Cite três livros e seus respectivos estilos que gosta e três que não gosta:
História sem fim, Sandman e Ainda resta
uma esperança. Fantasia e, embora, Sandman não seja livro, é uma das obras mais
prazerosas e geniais de leitura.
Machado de Assis, José de Alencar e
Machado de Assis. Acho que meus professores de literatura me fizeram odiar mais
que qualquer coisa obras clássicas de autores nacionais. Acho que professores
deveriam inspirar, mas, eu tive uma professora que ficava insistindo na
conversa se Capitu havia traído Bentinho todas as malditas aulas e a porra do
José de Alencar levava uma vida inteira para descrever uma penteadeira. Não dá!
Acho que, talvez, esta seja minha dificuldade em escrever em detalhes as coisas
nas minhas obras.
Um pouco mais de Nana:
"A tatuagem de ponto-e-vírgula de Nana: “fiz para me lembrar de quão forte eu sou. E de que eu ainda tenho muito o que viver. Minha vida começa agora. A cada novo dia”.
E
um pouco mais nesses links:
Facebook de Nana Calimeris
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