terça-feira, 29 de setembro de 2015

Perguntas menos ordinárias de Patrick DiPeixoto a escritora Nana Calimeris #3



Não desejo fazer perguntas que comumente são feitas; mas algumas são indagações que gosto e as faço a mim mesmo; e outras com intento para que possamos entender como estamos indo com nossos novos escritores; ou mesmo aos que já tem certa experiência na arte da escrita. Sobremodo, eu almejo fazer uma pequenina introspecção no autor que deseja responder-me e para seu leitor, o admirador que promove um grande prazer ao admirado, e vice-versa.


Com um convite de Myllena Nonato Lima, também administradora da página Entrevistando Autores do Wattpad, convido-lhe a mais entrevista, agora com a escritora Nana Calimeris. 
Espero que gostem...






1- 
O que te define um escritor? Qual foi a idade que você teve o peso necessário que o fez considerar, ou mesmo como pretensão, a ser um amante das letras?

*** Para mim, o que me define como escritora é me preocupar com um bom português, embora eu tenha lá os cacoetes e vícios de linguagem. É fundamental que um escritor domine a língua na qual escreve para contar uma boa história. Já vi bons plots se perderem pela falta de uma boa escrita. Estilo, descobri que tenho um modo de escrever que é bem particular, principalmente, quando baseio minhas histórias em sonhos que tive e me marcaram. 
Infância, pelos sete anos de idade. Descobri na literatura, uma forma de poder me expressar e como eu já tinha depressão, foi uma forma de tentar aliviar a dor que me consumia da sensação de solidão e desespero, dos choros contínuos. Não foi o suficiente, claro, mas, foi o que me levou a querer colocar uma palavra depois da outra. A vontade de querer ser publicada veio aos 18 anos, mais de 20 anos atrás. 

2- 
Sabe qual a diferença entre um autor e um escritor?

*** Não. E tem? 

3- 

(A)-Como autores são seres que pensam muito, qual é sua maior frustração quando ocorre a possível incompreensão do leitor para com sua obra?

(B)-Sobre ainda esse "conflito", uma questão para ser respondida como um leitor e outra como escritor, há uma preocupação que você faz na tentativa de melhorar essa comunicação?


*** Um belo palavrão e pensar no que posso melhorar.
Sim, tenho um amigo, que é o mais ferrenho crítico do que escrevo. Ele fala que minhas personagens são mulheres à espera do príncipe encantado, coisa que eu não quero. Então, tento perceber o que posso fazer para torná-las mais próxima do que imagino ou quando ele fala de alguns vícios que tenho e que posso corrigir. Em algumas histórias, claro, isso não é possível. 

4- 
Você se preocupa com o plágio inconsciente (Aquele que, quando é leitor de seu autor favorito, o faz sem perceber)? Cite seus três autores favoritos:


*** Eu tenho inúmeras referências de autores variados, que vou brincando. Então, não me preocupo com isso. Afinal, Jung já falava do inconsciente coletivo. Os deuses são infinitos e se repararmos bem, as culturas diversas espalhadas pelo mundo antes do advento da comunicação cultuavam deuses do sol, deusas da lua e assim segue. É importante que estejamos atentos ao inconsciente coletivo. Devemos apenas tomar cuidado para não usar excessivas referências (e os fãs de Harry Potter que me perdoem) como o fez J.K. Rowling. Por exemplo, a coruja de Potter é a mesma coruja usada por Neil Gaiman em Os livros da magia e há outras referências claras de plágio descarado.


5-
Quando acaba de escrever, sempre posta em seguida ou tem o hábito de amadurecer a sua obra até que fique como deseja, e logo depois, a faz ter vida pública?

*** Na verdade, só me dou ao trabalho de escrever quando a história passa em minha mente como em um filme porque eu sei para onde ir. Às vezes, parece que a personagem senta sobre meu ombro e vai contando a história até ela ter o formato. Só tem um livro que reformulei várias vezes, tendo, inclusive, terminado e começado do zero. É uma história que surgiu quando eu tinha 15 anos e acho que, agora, consegui fazer ela ter o tom desejado. 

6- 
Encanta-te a fama póstuma? Escreve algo nesse sentido; preocupa, há um esforço particular em escrever algo que só pode ser admirado depois de décadas?

*** Não e não. Escrevo porque preciso. Não escrevo para agradar aos outros. Talvez, seja um erro. Mas, eu sinto a necessidade de fazê-lo para não enlouquecer e creio que isto me manteve viva durante muitos anos e estou falando absolutamente sério sobre isso.

7-
O que te motiva a escrever? E o que lhe provoca desânimo?

*** Sobreviver me motiva a escrever, é a forma artística de expressão que mais domino. Gosto de desenhar mas não sou tão dedicada quanto gostaria. Não sei tocar nenhum instrumento e não tenho o menor dom para música, infelizmente. Sobrou-me a escrita. 

8- 
As críticas positivas são sempre bem vindas, porém, pode ser que você tenha a (in)felicidade de encontrar alguém mais sincero, (não, necessariamente, que fará críticas justas), como você se daria com isso? Responderia na mesma altura, questionaria a si mesmo e/ou defenderia o que acredita em sua obra?

*** Uma vez, um crítico disse que um livro meu parecia um manual de chuveiro. Muitas vezes, amigos acham que minhas histórias são confusas. Mas, meu cérebro é um labirinto cheio de voltas. Eu não consigo ser linear. Imagine escrever uma história linear. Estou tentando com esta obra que falei só que é difícil.

9- 
Sabendo que autores têm poderes que formam opiniões e promovem discussões, você possui essas preocupações mente o que você deve ser passado ao publicar? Ou acredita que não há tanto valor, em um sentido contextual, de seus escritos?

*** Sim, sempre deve ter este valor. Eu gosto da ideia de provocar e polemizar, principalmente, quando escrevo crônicas. Talvez, um dia, eu escreva sobre radicalismos e movimentos sociais, uma história que tenha este contexto porque as pessoas que entram em grupos parecem perder a capacidade de raciocínio. Jung já dizia isso no começo do Século XX.

10-
Você tem um pensamento político ou social? Sente falta de autores contemporâneos que utilizam seus textos para contribuir de alguma forma para sociedade? Se leu, cite ao menos duas obras como dicas de leitura!

*** Sim, tenho. Vou citar uma conversa que tive com meu filho estes dias. Falávamos sobre a questão de gênero e eu estava explicando para ele os vários nomes e definições que existem hoje em dia e ele disse: Ninguém tem asas de joaninha nascendo nas costas. Todo mundo é ser humano. Eu retruquei que se houvesse pessoas com asas de joaninha, não poderíamos ter preconceito com mutantes. Ele disse: Bem, ninguém é um monstro saindo do lago. Portanto, acredito que devemos nos unir em prol de uma humanidade melhor. Temo pelo que o feminismo esteja fazendo com as pessoas e que os movimentos sociais perderam o foco. Se a luta é pela aceitação, por que heterossexuais não podem defender os lgbt's? Não é este o propósito dos movimentos? Se as feministas lutam contra o machismo, por que elas excluem os homens? Será que a ideia é criar uma sociedade apenas de mulheres? 

Eu não li, mas, considero o livro de Nana Queiroz de uma grande importância (Presos que menstruam) e o fato dela ter criado uma revista voltada para uma mulher que se cansou de revistas de beleza que falam como fazer sexo pendurada no lustre, como agradar ao homem e dicas de beleza que só fazem com que nos sintamos feias. Neil Gaiman é outro autor fenomenal e Amanda Palmer tem um livro que ainda não li, mas, está na lista de aquisições: A arte de pedir. Em termos de romance, não tenho lido nada que me tenha chamado a atenção. 


11- 
Você tem dificuldades em escrever sobre algum tema específico? Quais os motivos? Tem algum tema que tem todo poder de seu espírito, como se houvesse a necessidade em depositar no papel aquilo que tanto sentiu?

*** Depende. Em termos de crônicas, não. O google ajuda bastante a conseguir as informações necessárias. Em histórias, sim. Minhas personagens flutuam entre o realismo fantástico e fantasia. Tenho dificuldade em escrever sobre coisas que não pertencem à minha realidade como, por exemplo, um tema muito explorado na literatura brasileira, que é a dificuldade do nordestino e do pobre. Eu defendo que todos devemos ter nossos direitos atendidos e que deveríamos ter uma sociedade mais justa. Mas, eu não consigo escrever sobre realidades distantes da minha. Mas, há coisas que são universais e é, por esta razão que nos conectamos com histórias bem escritas, elas nos falam alguma coisa.

12- 
Você teve alguma referência familiar, alguém, que mesmo de forma indireta, influenciou na sua vida amante da arte da escrita?


*** Meu pai gostava de ler quando era menino. Mas, é tudo. A literatura chegou para mim porque eu me sentia muito sozinha enquanto crescia. Eu não conseguia me socializar com facilidade.

13- 
Para tentarmos algo diferente, você responderia essas perguntas por captação e veiculação em um vídeo?

*** Sim.

14- 
Eu tenho uma frase em defesa dos livros físicos, ei-la:

“Os apreciadores das artes convencem-se pelos sentidos que possuem. Portanto, um leitor, depois da visão, inconscientemente, se apega ao livro pelo olfato e, o mais defendido, o tato. Livro físico jamais será substituível para nós leitores.”

Concorda comigo? Qual é seu relacionando com os livros físicos e os digitais?


*** Eu tenho dificuldade em ler livros digitais. Eu me esforço, mas, a tela me cansa um bocado. Eu gosto de sentir, tocar, passar as páginas. Dá preguiça de ler na tela. Cansa. Quando fecho o olho, fica aquela coisa branca na retina.  

15- 
Diga-me quais são suas obras? Discorra um pouco sobre uma delas em que há mais sente orgulho. O quanto ela biográfica?

*** Caraca! É muita coisa para falar assim. Mas, existem coisas que eu escrevi que me surpreendem muito. Escrevi um livro sobre incesto e é um livro pesado neste aspecto. Fiz a revisão dele recentemente e me pergunto onde eu estava com a cabeça para escreve algo tão intenso, forte e tão disruptivo porque conta a história de uma mãe que seduz o filho e da irmã que é apaixonada pelo irmão. O livro se chama Amar implica em não sofrer.
Tem um outro livro Luz de la Mañana que também trata do tema, mas, de uma forma mais delicada e é a busca da personagem por si mesma, pelo entendimento da vida. Na verdade, todas as minhas obras têm este ponto em comum, a busca do entendimento da vida, das dores e das angústias. Talvez, porque quando os escrevi, eu desconhecia que tinha espectro bipolar e sentia o mundo como se estivesse sem pele. Tudo era forte e intenso e eu buscava respostas para me entender, para descobrir porque não me sentia amada. Os contos têm menos disso. Gosto de usar elementos simbólicos, embora não sabia como o público os entenda.
Mistérios de mim é a busca de uma mulher durante a sua vida sobre um evento que teve uma grande importância em sua vida. 
Quem é Rose Alice foi livro que eu escrevi por conta de coisas que ouvi que me machucaram muito e saiu uma obra com ficção científica, que é um tema que muito me interessa em filmes. 

16- 
Poesia! Eu, Patrick, acredito que a poesia está presente em qualquer arte que se pretenda expressar! O que essa palavra (e um leque de significados), sobretudo na escrita, representa em sua vida literária?

*** É simbólica. Não é uma arte que eu domina nos termos clássicos. Mas, por exemplo, os orientais são mestres nesta arte seja em que arte for. Principalmente, nos animes. Há muito simbolismo nas artes orientais. O ocidental precisa de tudo preto e branco. As sutilezas se perdem. 

17- 
Quais outras artes que você desejaria se expressar?

*** Eu me expresso. Desenho! Não como gostaria mas tento. 

18-
 Esse questionamento pode lhe promover um amadurecimento? Em suas reflexões, gostou dessas perguntas?

*** Foi bem interessante respondê-lo. Sim, organizou melhor o que posso fazer com as minhas histórias. 

19-
Cite uma frase, em quantas linhas desejar, que vende o seu lado autor:

*** Pô, você gosta de me complicar, né?

Não tenho.  

20- Cite três livros e seus respectivos estilos que gosta e três que não gosta:

História sem fim, Sandman e Ainda resta uma esperança. Fantasia e, embora, Sandman não seja livro, é uma das obras mais prazerosas e geniais de leitura. 
Machado de Assis, José de Alencar e Machado de Assis. Acho que meus professores de literatura me fizeram odiar mais que qualquer coisa obras clássicas de autores nacionais. Acho que professores deveriam inspirar, mas, eu tive uma professora que ficava insistindo na conversa se Capitu havia traído Bentinho todas as malditas aulas e a porra do José de Alencar levava uma vida inteira para descrever uma penteadeira. Não dá! Acho que, talvez, esta seja minha dificuldade em escrever em detalhes as coisas nas minhas obras.



Um pouco mais de Nana:
"A tatuagem de ponto-e-vírgula de Nana: “fiz para me lembrar de quão forte eu sou. E de que eu ainda tenho muito o que viver. Minha vida começa agora. A cada novo dia”.


E um pouco mais nesses links:


Facebook de Nana Calimeris