quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Perguntas menos ordinárias de Patrick DiPeixoto a escritora Raquel Pagno #4

Não desejo fazer perguntas que comumente são feitas; mas algumas são indagações que gosto e as faço a mim mesmo; e outras com intento para que possamos entender como estamos indo com nossos novos escritores; ou mesmo aos que já tenham certa experiência na arte da escrita. Sobremodo, eu almejo fazer uma pequenina introspecção no autor que deseja responder-me e para seu leitor, o admirador que promove um grande prazer ao admirado, e vice-versa.


Com um convite de Myllena Nonato Lima, também administradora da página Entrevistando Autores do Wattpad, convido-lhe a mais entrevista, agora com a escritora  Raquel Pagno. 
Espero que gostem...



1-
O que te define um escritor? Qual foi a idade que você teve o peso necessário que o fez considerar, ou mesmo como pretensão, a ser um amante das letras?

R: Demorou um bocado pra eu passar a me denominar escritora, de fato. Hoje, depois de alguns anos exercendo a escrita “profissionalmente” eu ouso me considerar escritora. Mas relutei bastante em aceitar essa alcunha.
Meu primeiro pensamento é que um escritor de verdade é o indivíduo que ganha a vida escrevendo.  Com o passar do tempo mudei essa concepção e passei a considerar escritor, apenas aquele que escreve e foi nessa que arrisquei me enquadrar.
Desde que me conheço por gente eu fui uma amante das letras, ainda que não conseguisse interpretá-las. Quando eu tinha cerca de 12/13 anos, encontrei um livro nas coisas da minha irmã e passei a ler escondido. Era um romance platônico, chamado Tempo de Tentação – de Sue P. Prank, e eu ainda me lembro de trechos inteiros desse livro, como se eu o tivesse lido ontem. A partir dessa leitura, eu soube que queria escrever, escrever livros de verdade, muito embora já escrevesse antes livrinhos infantis onde eu narrava contos sobre cães.

2- 
Sabe qual a diferença entre um autor e um escritor?

R: Segundo as definições no dicionário:
Escritor, Autor; publicista; literato; homem de letras.
Ou seja, Escritor e Autor podem ser considerados sinônimos, sob determinado aspecto.
Há quem diga que escritor é quem tem uma carreira literária e autor quem escreve uma única obra.
Porém quem faz qualquer coisa é autor de. Não precisa ser necessariamente um livro. Executar um ato te torna autor. Portanto não gosto da concepção “autor” para designar quem trabalha com a escrita. 

3- 
(A)-Como autores são seres que pensam muito, qual é sua maior frustração quando ocorre a possível incompreensão do leitor para com sua obra?

R: É relativo. Depende com qual obra isso acontece e qual a maturidade do leitor que não compreendeu. Tendo a pensar que aquele leitor não estava pronto para aquela obra. Deixando claro que estamos nos referindo a um leitor que não entendeu o que leu, e não a um que não gostou, ou que deu uma interpretação própria, mas coerente, da obra. Não chego a ficar frustrada com isso.

(B)-Sobre ainda esse "conflito", uma questão para ser respondida como um leitor e outra como escritor, há uma preocupação que você faz na tentativa de melhorar essa comunicação?

R: Sempre. Estudo muito. Já fiz várias oficinas literárias, cursos e leio tudo o que consigo catar sobre técnicas literárias, embora nem sempre aplique ou pense que devo aplicar. E uma coisa é certa: não deixarei de escrever o que eu tenho vontade para facilitar a vida dos leitores, mesmo porque, minha escrita já é extremamente simples.
O bate-papo com outros escritores e a escrita a quatro mãos considero a melhor oficina literária que existe. E a melhor escola, sem dúvida, meus próprios erros. E, apesar disso, creio que meus livros ainda estão bem longe de ficarem ok, ou pelo menos, de chegarem ao ponto onde eu quero que cheguem.

4- 
Você se preocupa com o plágio inconsciente (Aquele que, quando é leitor de seu autor favorito, o faz sem perceber)? Cite seus três autores favoritos:

R: Essa é uma questão curiosa. Eu me preocupo em não conseguir escrever como meus autores favoritos. E não consigo, isso é impossível. Mas, sinceramente, eu queria... (risos).
Meus queridinhos são mais de três. Vou citar aqui o primeirão da minha lista, Carlos Ruiz Zafón (e quem me dera escrever um décimo do que esse cara escreve!). Depois a “tia” Anne Rice. E o Décio Gomes, dos brasileiros contemporâneos é o meu preferido.

5- 
Quando acaba de escrever, sempre posta em seguida ou tem o hábito de amadurecer a sua obra até que fique como deseja, e logo depois, a faz ter vida pública?

R: Nunca pensei em terminar e publicar de imediato. O texto precisa de repouso pra amadurecer. De tempos em tempos, precisa de uma nova leitura e revisão. É necessário no mínimo um ano pra um livro vir à luz. E pode demorar muito mais. Já com os contos o negócio é diferente, especialmente em textos que participam de concursos.

6-
 Encanta-te a fama póstuma? Escreve algo nesse sentido; preocupa, há um esforço particular em escrever algo que só pode ser admirado depois de décadas?

R: Não penso nisso. Nunca me ocorreu escrever algo para a posteridade. Eu tenho meus poucos leitores, eu sou feliz com eles. Ponto.

7- 
O que te motiva a escrever? E o que lhe provoca desânimo?

R: “Escrever é preciso; viver não é preciso” — alterei a célebre frase de Fernando Pessoa (que todo mundo sabe que não é dele, ou é apenas uma das versões), me crucifiquem! (risos)
Escrever é necessário. Eu preciso escrever com ou sem intuito de publicar. Sempre precisei escrever e acho que se eu não o fizesse, enlouqueceria.
A motivação é a própria inspiração. Qualquer coisa que possa gerar o estalo inicial para uma história.
Fico desanimada quando vejo bons autores sem oportunidade (não eu, não me incluo nessa leva, falo de autores cujos trabalhos eu admiro). E claro, quando tenho problemas pessoais penso em abandonar a literatura e tratar de fazer algo que renda algum dinheiro. Só que ainda não consegui largar o vício.  

8- 
As críticas positivas são sempre bem vindas, porém, pode ser que você tenha a (in)felicidade de encontrar alguém mais sincero, (não, necessariamente, que fará críticas justas), como você se daria com isso? Responderia na mesma altura, questionaria a si mesmo e/ou defenderia o que acredita em sua obra?

R: Recebi muitas críticas negativas, nem todas delicadas. Não me incomodo nenhum pouco. Aproveito o que pode me ajudar a melhorar e ignoro o que não pode. Não discuto com leitores, eles têm o direito de criticar, mesmo que por maldade (acontece), assim como tem o direito de xingar e de achar a leitura uma bela porcaria e expor suas opiniões.
Me incomoda quando alguém de quem eu gosto me critica. Aí o bicho pega. Não discuto, mas fico profundamente magoada, a pessoa tendo ou não razão. E, complementando a resposta da pergunta acima, isso me faz pensar seriamente em desistir.

9- 
Sabendo que autores têm poderes que formam opiniões e promovem discussões, você possui essas preocupações em mente o que você deve ser passado ao publicar? Ou acredita que não há tanto valor, em um sentido contextual, de seus escritos?

R: A idéia é justamente gerar discussões. Meus escritos não tem esse “poder”, não tem grande visibilidade para isso. Porém, eu tenho uma mania chata de alterar as mitologias, o que com toda a certeza renderia um bocado. Sei que alguns odiariam e diriam Porra! Não é assim que funciona!, mas outros talvez dissessem Uau! Que idéia original!, e quando eu decido escrever de determinada forma, estou preparada para ambas as situações.

9-
 Você tem um pensamento político ou social? Sente falta de autores contemporâneos que utilizam seus textos para contribuir de alguma forma para sociedade? Se leu, cite ao menos duas obras como dicas de leitura.

R: Lógico que tenho as minhas opiniões, mas prefiro não expô-las, especialmente, prefiro não contaminar a minha arte com esses temas. Não que eu considere irrelevante, apenas não se enquadra no que eu curto, e não escrevo nada que não me dê prazer. 
Em um ponto de vista amplo, livros contribuem com a sociedade, independente do tema abordado. Quando se lê um livro, algo se aprende, ainda que apenas a grafia correta de alguma palavra. Algumas obras trazem um conteúdo mais enriquecedor no aspecto social, claro, especialmente quando se lêem as entrelinhas.
Dentro do tema abordado na pergunta, eu sugiro a leitura de Como a Água do Rio, a biografia de Ademiro Alves, o Sacolinha. Também indico todos os livros do Laurentino Gomes, para que possamos entender melhor o presente, é preciso entender melhor o passado.

10- 
Você tem dificuldades em escrever sobre algum tema específico? Quais os motivos? Tem algum tema que tem todo poder de seu espírito, como se houvesse a necessidade em depositar no papel aquilo que tanto sentiu?

R: Eu detesto literatura erótica, logo, não escrevo bem. Mas acho que conseguiria se estudasse mais e me dedicasse ao gênero, o que eu não pretendo fazer, por enquanto. Me dou bem com drama, talvez pelo meu gosto literário. Tenho me dado bem com terror ultimamente, deve ser por excesso de pesadelos. Aí uma coisa que eu preciso jogar no papel: os sonhos. Quanto mais doidos os sonhos, maior é a necessidade de escrevê-los, ainda não rendam contos e livros, podem render boas cenas.

11-
Você teve alguma referência familiar, alguém, que mesmo de forma indireta, influenciou na sua vida amante da arte da escrita?

R: Primeiro a minha mãe que, apesar de não ser leitora, sempre me comprava muitos livros. E como eu sou a mais jovem de 5 irmãos, quando nasci já havia livros em casa. Depois minha irmã mais velha, que trazia livros da biblioteca da faculdade e os deixava em casa durante o dia, quando eu conseguia raptá-los e ler as escondidas.

12- 
Para tentarmos algo diferente, você responderia essas perguntas por captação e veiculação em um vídeo?

R: Responderia, mas sem garantias de que ficaria bom. Como oradora, sou uma ótima escritora. (risos)

13-
Eu tenho uma frase em defesa dos livros físicos, ei-la:
“Os apreciadores das artes convencem-se pelos sentidos que possuem. Portanto, um leitor, depois da visão, inconscientemente, se apega ao livro pelo olfato e, o mais defendido, o tato. Livro físico jamais será substituível para nós leitores.”
Concorda comigo? Qual é seu relacionando com os livros físicos e os digitais?

R: Eu amo livros físicos. O digital jamais dará o mesmo prazer. O livro físico é insubstituível. Cito aqui o slogan de uma das minhas editoras: “O livro está morto!... O livro nunca esteve tão vivo!”
Comecei a ler digitais há pouco tempo. A vantagem é a portabilidade, um leitor digital ou mesmo o celular é mais fácil de carregar do que um livro físico. Também pode-se levar uma biblioteca inteira dentro de um leitor digital e não correr o risco de ficar sem ter o que ler. É prático em viagens, por exemplo.

14- 
Diga-me quais são suas obras? Discorra um pouco sobre uma delas em que mais sente orgulho. O quanto ela biográfica?

R: Publiquei Rubi de Sangue (publicado no Brasil com o título Legado de Sangue), Seablue, Herdeiro da Névoa, O Voo da Fênix, 2020 – A Revelação e Senhores dos Sonhos.
Orgulho não é bem a palavra. Vou falar um pouco sobre Herdeiro da Névoa por ser o livro com maior número de leitores e por acreditar que nele consegui fazer um trabalho razoavelmente bom. 
O livro conta a história de Inácio Vaz, um jovem brasileiro que na década de 50 ganha uma bolsa de estudos e vai embora para Paris. Minha satisfação quanto à escrita desse livro, é a ambientação (minha maior dificuldade na escrita), que considero a melhor que fiz até agora. É difícil escrever sobre os lugares que conhecemos, sobretudo, os que não conhecemos. Me dediquei dois anos a pesquisas sobre a cidade e concluí que fiz um trabalho aceitável. Poderia ter feito melhor? Hoje eu vejo que sim.

15- 
Poesia! Eu, Patrick, acredito que a poesia está presente em qualquer arte que se pretenda expressar! O que essa palavra (e um leque de significados), sobretudo na escrita, representa em sua vida literária?

R: Não sou uma leitora assídua de poesia e confesso que poucos poetas conseguiram me conquistar. Mas concordo com você, em partes. Não escrevo poesia, já tentei, mas soou horrível e larguei. 
No quesito prosa, a poesia mesmo que velada está presente em algumas obras. Em O Jogo do Anjo (meu livro preferido do meu escritor preferido, Zafón), por exemplo, acho incrível a maneira como o autor se utiliza de imagens poéticas durante a narrativa.
A poesia mexe demais com sentimentos. Precisa ser assim, não pode ser superficial. Ao passo que a prosa, pode, e mexe com a curiosidade do leitor mais do que com as emoções. São pouquíssimos os poetas que conseguem mexer com os meus sentimentos. Cito aqui Augusto dos anjos “Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!”, e Cássio de Aquino “Em balbúrdias e grilhões enegrecidos,
desafiei este mundo, desafiei Marte!”.

16- 
Quais outras artes que você desejaria se expressar?

R: Gostaria de aprender música, mas já tentei inúmeras vezes e sou terrível em qualquer coisa relativa a isso. Mas ainda pretendo aprender a tocar algum instrumento. Violão, guitarra, flauta e gaita já estão descartados. Quem sabe piano, violino, violoncelo...

17- 
Esse questionamento pode lhe promover um amadurecimento? Em suas reflexões, gostou dessas perguntas?

R: Tudo o que nos faz pensar promove amadurecimento. Foram as perguntas mais originais que me fizeram, gostei bastante. 

18-
Cite uma frase, em quantas linhas desejar, que vende o seu lado autor:

R: Essa eu passo. (risos)

19- 
Cite três livros e seus respectivos estilos que gosta e três que não gosta:

R: Que gosto: Aqui a lista é longa... É muito difícil escolher apenas três. Mas vamos lá.
O Jogo do Anjo, Carlos Ruiz Zafón — (olha ele de novo aqui!) é o romance/suspense/sobrenatural mais maravilhoso que li. E vai ser difícil aparecer outro que me cause sensações parecidas.
A Hora das Bruxas, Anne Rice (e suas respectivas sequencias) — suspense/sobrenatural.
Albertine, Décio Gomes (e o segundo volume da série) — suspense/sobrenatural/terror leve. É impossível largar o livro antes do término.

Que não gosto:
50 Tons de Cinza, E. L. James — literatura (que tenta ser) erótica — pior livro que li na vida, disparado.
Drácula, Bram Stoker — era pra ser terror ou um romance sobrenatural, no entanto nem sei como o definir — precisei me esforçar muito, mas muito mesmo pra não abandonar a leitura na metade.

O Monge e o Executivo, James C. Hunter — era pra ser um livro “sobre a essência da administração”, mas é tão chato e romanceado que não dá pra considerar exatamente um romance e também não pode ser enquadrado como um livro técnico — fui obrigada a ler na faculdade e detestei.


Um pouco mais de Raquel:

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